Review: Oasis em Cardiff, por Ana Helena Mello
Fã brasileira acompanhou de perto a volta do Oasis após 16 anos.
Ainda estamos deixando a poeira baixar e tentando entender esse “novo normal” de um mundo com o Oasis fazendo parte dele novamente do jeito que nós conhecíamos.
O show de sexta-feira, 4 de julho, o primeiro da banda em 16 anos, foi acompanhado por milhões de pessoas ao redor do mundo e 75.000 sortudas em Cardiff.
Uma delas era a Ana Helena Mello, brasileira e mad fer it, que gentilmente topou trazer pra gente suas impressões em um belíssimo texto, reproduzido abaixo.
Obrigado, Ana.
Por Ana Helena Mello
“Hey kid, did you know? Today 16 years ago it was you and I for the last time”
Se alguém me perguntasse, em qualquer momento desses últimos 16 anos, eu jamais imaginaria que teria a chance de ver Noel e Liam juntos em um palco novamente. E acho que foi justamente essa (quase) certeza de que nunca mais iria acontecer que fez a felicidade ser ainda maior quando a volta foi anunciada.
Foi meio do nada. Primeiro surgiram uns rumores, depois uns posts misteriosos dizendo que algo grande estava por vir. Ainda assim, a ficha só caiu quando vi o anúncio oficial. It is happening.
Na real? Acho que só vai cair mesmo quando a introdução de Fuckin’ in the Bushes começar a tocar, o público gritar, as cervejas voarem, e os dois entrarem no palco.
Hoje faltam exatamente 4 dias para um dos momentos mais esperados da minha vida, e eu comecei a buscar inspiração para escrever esse texto. Quando o Alisson me convidou, fiquei receosa — nunca escrevi nada pra um público, muito menos sobre música, e mais ainda sobre Oasis. Falei que talvez meus skills não fossem os ideais. Ele respondeu: “os melhores textos são escritos com o coração”. E é isso. Se esse texto tem alguma coisa, é o meu coração pulsando por estar vivendo isso em primeira mão.
O Oasis tem um significado enorme na minha vida. Na verdade, nem digo que é minha banda favorita. É mais que isso. Oasis é a minha banda.
Gosto de outros artistas, claro. Mas nenhum como eles. É a única banda em que eu canto todos os riffs, as viradas de bateria, os backing vocals — tudo. É tipo a trilha sonora da minha vida. Sabe aquele momento da retrospectiva final, quando a gente morre? Na minha, vai estar tocando Oasis.
Então, quando a volta foi anunciada, eu sabia que precisava estar lá. Mas não podia ser qualquer show. Tinha que ser o primeiro. Eu precisava viver aquele instante com a banda, com os fãs, com todo mundo que também ficou 16 anos sem acreditar que esse dia chegaria. Precisava sentir a energia do início, o nervosismo, a ansiedade, a explosão de adrenalina que só aquele momento específico teria.
Acho que não existe nada que se compare à volta da sua banda. Quando ela acaba, é como um luto. Você se sente órfão, sabendo que nunca mais vai ouvir suas músicas favoritas ao vivo. Quando ela volta, é como uma segunda chance. É arrepio, é emoção, é uma vida nova recomeçando dentro de vinis antigos.
Então mirei no dia 4 de julho. Mas logo percebi que teria inimigos de peso: a Ticketmaster UK, os bots, os milhares de fãs e pseudo-fãs querendo o mesmo ingresso que eu e sem falar na libra a R$7,50.
Não consegui. Consegui o do dia 12. Já estava nas nuvens. Mas como Noel mesmo diz: “Am I happy with that? No, I am not. I want more.”
A viagem já estava marcada, mas a busca pelo ingresso do dia 4 continuou. Até que, num desses momentos aleatórios da madrugada, entrei no site sem muita esperança… e lá estava. Um único ingresso, no valor original, pro show de Cardiff. Comprei. E aí sim, começou a contagem regressiva.
Corta a cena.
Cardiff parecia uma cidade recém-libertada de um apocalipse onde todos foram proibidos de ouvir Oasis por mais de uma década. Pubs lotados, ruas tomadas por camisetas do City, casacos da adidas, bucket hats e tamborins. Parecia um pós-Covid emocional: fãs que passaram anos reclusos, de repente soltos no seu habitat natural.
A emoção era confusa e intensa. Uma mistura de ansiedade por querer que começasse logo, com a vontade de viver cada segundo, e a melancolia de saber que aquilo, inevitavelmente, teria um fim.
Richard Ashcroft entrou primeiro. O público demorou a se animar. Na arquibancada, eu estava em pé sozinha. Ele fez um set curto de 45 minutos com os clássicos, e só nos minutos finais a plateia levantou. Quando Bittersweet Symphony começou, o estádio inteiro cantava junto. Foi um belo aquecimento do que ainda estava por vir.
E então as luzes baixaram. O telão acendeu. Uma intro que já nem lembro qual era. O coração disparou. As lágrimas vieram. Quando começou Fuckin’ in the Bushes, meu corpo inteiro arrepiou. Aquela intro não é só uma música, é um portal. De repente, tudo fazia sentido.
E foi uma sequência de pedradas. Como se soubessem que a dúvida era cruel, mandaram Hello e Acquiesce seguidas. It’s good to be back. It’s good to be back.
Suor e lágrimas misturados. Sem tempo para respirar. Liam com a voz impecável. Noel, the chief. A formação enxuta e certeira com Andy, Gem, Bonehead e a boa surpresa do Waronker na bateria. Os riffs saindo exatamente como nos singles: sem arranjos, sem firula, simplesmente como é. Simplesmente Oasis.
Liam parecia uma criança no parquinho. Noel demorou mais a se soltar, mas durante Don’t Look Back in Anger dava pra ver a emoção nos olhos dele. O estádio inteiro cantou cada verso. Era como se todo mundo estivesse vivendo aquilo pela primeira vez. Porque, de certo modo, era.
O setlist foi um acerto atrás do outro. Os hits mais marcantes intercalados com surpresas como Bring It On Down, D’You Know What I Mean e Fade Away. E por 2 horas e 15 minutos, o tempo simplesmente parou. O mundo inteiro parou. Fãs de todos os lugares estavam ali, ao vivo ou em pensamento, parte de algo que parecia impossível acontecer. Mas aconteceu.
Ser fã de Oasis é isso. É carregar um amor que não faz sentido. É aceitar o temperamento difícil dos irmãos, ser team Noel ou team Liam (ou trocar de lado conforme o humor do dia) mas no fim, se emocionar com eles se abraçando no palco. Momentos que não se explicam, só se sentem.
E se tinha alguma dúvida… agora não tem mais.
Eles voltaram.
E a gente também.
We are all part of a Masterplan.
Eu chorei lendo esse texto!!
"as cervejas voarem": gostei do otimismo! kkkk
Brincadeiras à parte, fico feliz por todos os fãs que testemunharam isso em primeira mão. Se foi incrível de ver pela live aleatória do YEAH BOY, imagina só ao vivo.