Review - Oasis em Manchester (16/07), por Debora Mattioda
Fã brasileira acompanhou um dos cinco shows da banda em sua cidade natal.
Por Debora Mattioda, para o Oasis News
Quase não acreditei quando, depois de 7 horas numa fila virtual da Ticketmaster UK na minha casa em São Paulo, com 17 diferentes abas abertas (uma para cada show anunciado no Reino Unido), eu recebi a confirmação de que eu havia conseguido os ingressos de Manchester. Logo Manchester. A casa dos caras. O mais desejado de todos os lugares para mim.
Nas horas seguintes, passou um filme na minha cabeça: desde a primeira música que ouvi deles na MTV (Wonderwall) em 1996 e falei “nossa, que música legal” passando por como a minha vida se tornou uma interminável busca por tudo relacionado à banda dos irmãos Gallagher. Procuras por revistas na biblioteca do curso de inglês, websites capengas em uma internet discada, ingressos dos pouquíssimos shows que eles fizeram no Brasil, gravações em fitas VHS de clipes e shows que passavam na MTV, buscas em lojas de CDs importados por singles que eventualmente fossem vendidos no Brasil. Qualquer coisa que me desse um pouco mais de proximidade. Até a troca de uma festa de 15 anos por uma viagem à Inglaterra para poder beber tudo na fonte por uma semana. Depois dessa, foram algumas outras viagens à Inglaterra (o que virou motivo de piada entre meus amigos, pelo “monotema”). Numa dessas, até mesmo o Mr. Sifter eu fui conhecer para saber se ele realmente vendia “músicas aos irmãos Gallagher quando eles só tinham 16 anos”.
Entre 2009 e 2024, o tempo entre o término do Oasis e a volta, parece que um grande hiato musical se abriu para mim. Curtia outras bandas, mas Oasis ainda era a minha favorita. Ficava buscando nas novas bandas do Liam e do Noel a emoção que eu perdi com o fim do Oasis. Chegava perto, mas aquela sensação de que “Liam-sem-Noel” e “Noel-sem-Liam” não fazia muito sentido. Ia aos shows que eles separadamente faziam no Brasil e sempre saía feliz mas, sei lá, ainda faltava alguma coisa ainda. Comecei a proferir para várias pessoas: “O dia que eles voltarem, eu vou aonde for necessário, não importa”.
Corta para 2024: meio que, do nada, Oasis anuncia a volta. De verdade, nunca duvidei que isso aconteceria. Era uma questão de tempo. Agora é isso, a grande espera acabou. Chorei real. E aquele sentimento de “custe o que custar” veio com tudo para cima de mim. Primeiro, eles anunciaram a turnê do Reino Unido e definitivamente eu não estava a fim de pagar para ver se eles anunciariam algo no Brasil. Eu precisava ir “aonde for necessário”.
Os ingressos para venda abriram às 5h da manhã do dia 31 de agosto de 2024 e lá estava eu para tentar. Com esperança? Confesso que não muita. Mas eu TINHA que tentar.
E tudo aconteceu muito rápido, sem tempo de pensar. Ao meio-dia e pouco, quando a tela abriu para escolha dos ingressos e inserção do número do cartão, eu só fui. Deve ter durado uns 5 minutos todo o processo, mas na minha cabeça pareciam 5 anos. Pá, compra confirmada e recebimento do e-mail “You’re in! Your Oasis tickets confirmation.” A sensação era de sonho, de delírio e até de golpe, mas passou rápido. Alguns segundos depois eu já estava chorando (de novo).
A viagem em si não está sendo exatamente fácil. Câmbio nas alturas e um filho de 4 anos deixado com os avós no Brasil, mas viemos, meu marido e eu. Passamos uns dias em Londres e chegamos em Manchester na terça-feira, véspera do show. Parecia que a cidade inteira respirava Oasis. Cartazes em todos os lugares, pessoas vestidas de Oasis, pubs oferecendo festa pré-show e pós-show, Músicas do Oasis tocando em todos os lugares, locais nos perguntando de onde éramos e se estávamos aqui só pelo Oasis. Apesar de ter dado uma boa bagunçada na estrutura da cidade, os locais pareciam estar felizes de nos ver.
Na terça, muita chuva, tempo horroroso. Na quarta, dia do show, nenhuma chuva e até um sol apareceu. Eram os deuses da música nos dando mais um presente. Digo “presente” porque, além de conseguir os ingressos, há algumas semanas atrás, eu fui selecionada para a front standing area, em um sorteio feito pela organização. Ou seja, conseguiria vê-los de muito mais perto do que poderia imaginar.
Chegamos no Heaton Park um pouco antes das 15:00, hora da abertura do portão. A visão já era de um mar de gente que provavelmente estava ali desde a madrugada. Pegamos nosso lugar na fila e rapidamente entramos, nos posicionando estrategicamente entre os microfones de Liam e Noel e de lá não saímos mais. Começo a olhar as pessoas ao redor e tem de tudo: homens mais velhos, mais jovens, mulheres, senhores e senhoras. Começo a refletir sobre como o Oasis consegue tocar todas as gerações até hoje. Também vejo pessoas de todos os lugares do mundo, com bandeiras variadas, frases escritas em cartazes e as mais diferentes camisetas e referências. Muito louco ver quantas pessoas são capazes de sentir a mesma coisa que você com as músicas deles. O lugar vai ficando muito cheio.
Às 18h veio a banca Cast, muito animados e felizes, com referências do rock britânico claramente muito parecidas com a grande da banda da noite. Alguns acordes iniciais levavam o público a pensar que eles mandariam um Oasis cover ali. Foi um grande e agradável refresco na espera de já quase três horas no mesmo lugar, debaixo do sol. Logo em seguida, as 19h, aparece Richard Ashcroft, apresentando um show que eu veria inteirinho se não estivesse ali para ver o show da minha banda preferida.
Pontualmente às 20:15, ainda com um sol a pino do verão inglês, o vídeo de abertura começa e parece que meu coração vai sair pela boca. Fico sem ar. Começa Fuckin In The Bushes e alguns segundos depois vejo Noel e Liam de mãos dadas entrando no palco. As frases “This is it. This is happening” com os dois na frente me dá vontade de chorar. Mas eu começo a gritar sem parar com uma força que eu nem sabia que eu tinha naquele momento. Liam manda o seu “Oasis vibes in the area” seguido de “Manchester vibes in the area”. A sensação que eu tinha que o tempo tinha parado e o mundo todo estava em suspenso.
Começa Hello e a galera começa a pular loucamente. Empurra-empurra, cerveja voando, uma rodinha se abre na nossa frente com pessoas se batendo e garotos pulam nos nossos ombros… Não me importo, estamos todos em transe naquele momento único. Uma catarse coletiva. Estamos todos sentindo a mesma emoção.
Só consigo parar de pular e voltar para mim mesma depois de umas quatro músicas ou cinco músicas, não me lembro. Eu e todo mundo ao redor. Isso porque eles começam com uma sequência para matar todo mundo mesmo. Vibe lá no alto, todo mundo muito feliz e quase não acreditando no que está acontecendo. Eles estão aqui, brilhando demais, como nos velhos tempos. Quase como se o tempo tivesse pausado no final dos anos 90 e voltado em julho de 2025.
Em determinado momento do show, Noel olha por alguns segundos para a plateia e diz “Nobody got fans like this. No one”. Eu posso ser extremamente enviesada, mas acredito muito nisso também rsrsrs O público delira.
Confesso que tenho dificuldade de descrever tudo que vi e senti, uma vez que foi muita muita coisa. Acho que vcs me entendem. Oasis sempre me leva para um lugar no meu coração que é só meu. E acredito que seja assim com todos os fãs. Em plenos 42 anos, escutando Oasis, eu sempre reencontro com a menina de 13 anos aprendendo inglês e cheia de sonhos e toda uma vida pela frente, descobrindo sentimentos e motivações com as frases criadas pelo Noel e cantadas pelo Liam. Muitas delas fizeram parte da cortiça de fotos no quarto, da minha agenda e até mesmo de post-it grudados no meu computador, quando, mais velha, comecei a trabalhar. Oasis é, de fato, uma parte da minha vida. Se não houvesse Oasis, minha vida teria sido um tanto diferente, com certeza.
Eles cantam Rock n Roll Star, saem do palco para um break de mais ou menos um minuto e eu vou me dando conta de que aquele sonho está terminando. Não quero que termine. Quero que o tempo volte e eu viva aquilo tudo de novo. A galera pede para eles voltarem. Eles voltam para arrebatar a noite com Don’t Look Back In Anger, Wonderwall e Champagne Supernova com o Sol se pondo. Fogos de artifício explodem enquanto os irmãos saem abraçados do palco. Fico observando até não conseguir mais vê-los e penso: “nos vemos em novembro!”. Volto para casa tão feliz que sinto que poderia dar um choque em alguém de tanta energia.
Acordo no dia seguinte e faço a minha primeira tatuagem, com as coordenadas do Heaton Park e a data de 16/07/25. Quero olhar para ela e lembrar não só de um dos melhores dias da minha vida mas também que o Oasis existe e sempre vai existir. Live forever!
Fui no segundo show em Cardiff com meu marido. Foi o melhor dia das nossas vidas, esperamos uma vida por isso, conheci o meu marido por causa do Oasis e essa banda basicamente esteve presente em todos os meus momentos. Nos dias que antecederam o show, tentei não tomar "spoilers" da passagem de som. Quando Noel começou Talk Tonight, viramos um para o outro e nos abraçamos chorando nossos olhos, nos lembrando de todas as noites que passamos conversando e salvando um ao outro. Eu nunca vou me esquecer de 5 de julho de 2025 e nunca vou me esquecer da felicidade genuína que aquele momento proporcionou.